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O Blog "Verba Volant, Scripta Manent" foi criado no âmbito de um exercício académico. Desde então, e por forma a dar alguma continuidade à experiência iniciada na blogosfera, mantém o objectivo de partilhar alguns textos pessoais, bem como outros materiais literários do nosso interesse.

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terça-feira, 1 de outubro de 2013

Mito de Sísifo

Relendo Miguel Torga, recordo Sísifo, personagem da mitologia antiga que desafiou a morte e os deuses, sendo por isso condenado a empurrar um enorme pedregulho, com as suas mãos, até ao cume de uma montanha. A cada vez que atingia o cume, a pedra rolava novamente até ao ponto de partida, tendo Sísifo de executar a mesma tarefa durante toda a eternidade. 
Ora, este Mito (repegado de forma interessantíssima por Camus em O Mito de Sísifo)  conduz-nos precisamente à ideia do "absurdo", à noção comezinha dos "esforços inúteis" da monotonia que, tantas vezes, nos toca na pele e tentamos repudiar. Há esforços e endereços inúteis, de facto, contudo já os latinos diziam: "Inutilia truncat" (cortar as coisas inúteis), acabar com as inutilidades. E quantas vezes temos o poder de interromper este trabalho sisifiano, encarar outros caminhos e possibilidades, criar e recriar aquilo que é rotineiro e absurdo, introduzindo a novidade, a surpresa, a superação!?
Nem tudo é necessariamente sisifiano e sem esperança. O que importa mesmo é "Recomeçar" sempre, desbravar novos trilhos, empurrar a pedra para outros cumes.
As paisagens que podemos contemplar de cumes diferentes esperam por nós e estão ao nosso alcance!  

Sísifo
Recomeça…
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar
E vendo
Acordado,
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças.

Miguel Torga, Diário XIII

1 comentário:

  1. "Nas duas grandes horas da Vida — a nascer e a morrer — o homem bebe sozinho o seu cálice. No trajecto entre os dois pólos, acobardado pela maior consciência da espessura da bruma, arregimenta amigos e companheiros. Mas a sua unidade é ele. Mesmo que consiga ter à volta a maior multidão — vai só."
    Miguel Torga (1937)

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