O meu Blog

O Blog "Verba Volant, Scripta Manent" foi criado no âmbito de um exercício académico. Desde então, e por forma a dar alguma continuidade à experiência iniciada na blogosfera, mantém o objectivo de partilhar alguns textos pessoais, bem como outros materiais literários do nosso interesse.

Todos os comentários, sugestões ou críticas serão sempre bem-vindos!

Porque as palavras faladas voam... e a palavra poética, tantas vezes, fala por si... e permanece... sempre!

domingo, 29 de setembro de 2013

[Hoje sou louco, aventureiro]

Hoje sou louco, aventureiro,
moribundo reencontrado

no cais da minha Alma.
Embarco e atravesso os mares
da pesada e negra madrugada.
Enfrento medos e tempestades,
o mar revolto de mim em-mim.

Velejo entre conchas outrora tenebrosas.
Gigantes. Assombradas.
Adamastor a dobrar
em mau tempo esperado-de-tranpor.
Monstros recriados em torturas imaginadas.

Hoje sou louco, aventureiro
do tempo perdido-reencontrado,
linha-limite por si superada.
Ilha em falsa erosão (e eu crente!)
que reencontra o Continente-de-si.

Hoje vislumbro uma luz ténue e trémula:
Reencontro do que um dia já fui.
Arco com flecha certeira. 
Convicto Tritão, amante de uma Sereia incógnita.
(Troyka Manuel)


terça-feira, 24 de setembro de 2013

Ernesto Sampaio

Assumo que desconhecia o autor.
Todavia, depois desta leitura, com toda a certeza tenho muito mais a explorar.
Porque foi assim... surpreendente!
(Obrigado, EP!)


... Sós, ambos, na estrada, nos confins mais remotos, tu já dentro da noite e eu à beira dela... 
Sós, de mão dada, com os olhos encantados pela imensa pérola luminosa da morte...
Ernesto Sampaio in Fernanda
Para conhecer melhor Ernesto Sampaio: In Memoriam

Requiescat in Pace António Ramos Rosa

Honra ao poeta que hoje perdemos!
RIP - 23 de Setembro de 2013

Não Posso Adiar o Amor 

Não posso adiar o amor para outro século 
não posso 
ainda que o grito sufoque na garganta 
ainda que o ódio estale e crepite e arda 
sob montanhas cinzentas 
e montanhas cinzentas 

Não posso adiar este abraço 
que é uma arma de dois gumes 
amor e ódio 

Não posso adiar 
ainda que a noite pese séculos sobre as costas 
e a aurora indecisa demore 
não posso adiar para outro século a minha vida 
nem o meu amor 
nem o meu grito de libertação 

Não posso adiar o coração 

António Ramos Rosa, in "Viagem Através de uma Nebulosa"

"Não posso adiar o amor", dito por José-António Moreira


domingo, 22 de setembro de 2013

[Reencontro repentinamente o Mundo]

Reencontro repentinamente o Mundo
e não o reconheço
(Cresci noutra ilha e não percebi).
As tardes são belas, quentes, solarengas,
mas os transeuntes são estranhos fantasmas
que se arrastam:
térreos de existir,
surdos de ver-sentir.


Sigo o impulso repentino:
Envolvo-me na multidão andante
e reconheço alguns passos, pelos pés.
Mãos envelhecidas, pequenos movimentos,
o andar desengonçado-penoso.
Caminhos que trilhei?
Mãos que me tocaram?

Não compreendo a multidão-fantasma,
não me vos reconheço,
e transformo-me então em estado-transeunte,
simbiose perfeita-aterradora.
Embarcação encalhada em mar revolto...

Hoje, reaprendo o preço
de estarmos sós,
de costas viradas,
acidentados em caminhos que não cruzam almas
que se fogem, sempre fugazes.
Muros intransponíveis!
Cruas cercas de fuga que se levantam 
para nunca mais deixarem de crescer.

Para quando o negro deixará de ser a diferença do rebanho?
(Troyka Manuel)

sábado, 21 de setembro de 2013

Caoticamente

Do caos, a polifonia.
Da melodia simples, a serra que corta:
pensamento falhado, simples, rasteiro.

Do caos, a visão absoluta,
resolução sábia do viver sentido.
Esferas que rolam e que gritam.
Sangue absurdo, gumes adiados.

Do caos, a vida!
A sensação.
Vastidão de olhares.
Cosmopolita visão de alguém
que um dia se atreveu a sentir.

(Troyka Manuel)



segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Encontro

coração que arde em frio
vista densa e atenta
encomenda inóspita-franca
sabor grave de bancos enfadados
cabos massivamente ligados
em rodopios de aranhiços

não importa

gosto de sentir o Outro
apertar a vida e as mãos
sentir
o Outro

sentir
Outro
sentir

(Troyka Manuel)



Ibrahim Maalouf - Your Soul por PuertoLibre

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

[Armam-se os titãs da guerra]


(Para AC)

Armam-se os titãs da guerra,
ergue-se o escudo de Aquiles,
parte para dentro de ti.
Cresce já a flor sem murchar
e os pesadelos deixam de ser.
Nascem os sonhos, acontece a vida,
liberdade temida-ansiada!

É o barco que arranca a sua âncora,
lentamente,
despejado do vazio atracado.
Escangalhado de tudo o que não era,
renascido em estaleiro de luxo.
Renovada-fresca Alma.

Do nada ergue-se a Matriz,
o verso solto, o amanhã:
Tempo de ti, Tempo de mim.
Despem-se as roupas rotas do hábito
fervilhado de becos sem trilho.

Caminhamos em frente!
Caminhamos rumo ao azul do Sol!
Caminhamos de frente!


(Troyka Manuel)

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Excerto do Poema "21"

"(...)
Entoo o canto do crescimento e do orgulho, 
Já nos humilhamos e imploramos bastante, 
Provo que tamanho é apenas desenvolvimento. 

Ultrapassaste os demais? És o Presidente? 

Isto é uma insignificância, todos lá chegarão e até ultrapassarão. 

Sou o que caminha com a noite que se estende ternamente, 

Grito para a terra e para o mar semi-envoltos pela noite. 

Aperta-me, noite, em teu peito desnudo – aperta-me, noite, magnética e nutritiva! 

Noite de ventos austrais – noite de grandes e raras estrelas! 
Noite silenciosa que me saúda – noite estival louca e desnuda.
(...)"

Walt Whitman

Canção de Mim Mesmo
Tradução de Alita Sodré

(Obra em pdf)



quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Antiguidade-Presente

In: http://olhares.sapo.pt/colunas-gregas-foto2209817.html
Assaltam-se as vozes,
rumores de outra vida,
antiguidades de uma existência
sem-espaço-tempo.
Recortam-se os versos,
a História, o fio, o pensamento...
Caem ruas desertas, cães sem dono,
cabeças perdidas, corpos gelados inertes:
uma antiguidade presente-esquecida.

Ruínas. Ruínas! Ruínas...

Máscaras de outro tempo,
espelhos de hoje, 
girassóis desnorteados
de amanhã-sem-céu.

Tenho artérias enjauladas de sangue
que se alimentam de Passado,
povoado por vozes da Antiguidade.
(Troyka Manuel)



"Requiem", por Dulce Pontes e Estrella Morente, em Mérida

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Mário de Sá-Carneiro









Esta inconstância de mim próprio em vibração
É que me há-de transpor às zonas intermédias,
E seguirei entre cristais de inquietação,
A retinir, a ondula… Soltas as rédeas,
Meus sonhos, leões de fogo e pasmo domados a tirar
A torre d' Ouro que era o carro da minh' Alma,
Transviarão pelo deserto, moribundos de Luar —
E eu só me lembrarei num baloiçar de palma...
Nos oásis depois hão-de-se abismar gumes,
A atmosfera há-se ser outra, noutros planos;
As rãs hão-de coaxar-me em roucos tons humanos
Vomitando a minha carne que comeram entre estrumes...
*
Há sempre um grande Arco ao fundo dos meus olhos...
A cada passo a minha alma é outra cruz,
E o meu coração gira: é uma roda de cores...
Não sei aonde vou, nem vejo o que persigo...
Já não é o meu rastro o rastro d'oiro que ainda sigo...
Resvalo em pontes de gelatina e de bolores...
— Hoje a luz para mim é sempre meia-luz....
…………………………………………………………………………………………..
…………………………………………………………………………………………..
As mesas do Café endoideceram feitas Ar...
Caiu-me agora um braço... Olha lá vai ele a valsar,
Vestido de casaca, nos salões do Vice-Rei...
(Subo por mim acima como por uma escada de corda,
E a minha Ânsia é um trapézio escangalhado...)
Lisboa, Maio de 1914 


sábado, 7 de setembro de 2013

Ler Poesia...

Um verdadeiro incentivo à leitura de Poesia. "Ler Poesia é mais útil que os livros de autoajuda". Hoje, brindo à Arte, em todas as suas formas!





Desta forma, partilho um acervo de qualidade de Poesia Portuguesa: Banco de Poesia da Casa Fernando Pessoa.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

E agora, José?

Carlos Drummond de Andrade no seu melhor!

"E agora, José?", dito por Paulo Autran.








Stendhal, "O Vermelho e o Negro"

"Estou sozinho no mundo, ninguém se digna pensar em mim. Todos os que vejo enriquecer têm uma brutalidade e uma dureza de coração que eu não sinto. Odeiam-me por causa da minha bondade fácil. Ah! morrerei em breve, ou de fome ou de dor por ver como os homens são duros" 
(Citação de Young em O Vermelho e o Negro de Stendhal)



terça-feira, 3 de setembro de 2013

Labaredas de sal e de neve,
doce amargo sabor
de uma vida
subtil, quieta,
em ânsia permanente de partir...

(Troyka Manuel)





segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Reconhecimento à Loucura


Já alguém sentiu a loucura
vestir de repente o nosso corpo?
Já.
E tomar a forma dos objectos?
Sim.
E acender relâmpagos no pensamento?
Também.
E às vezes parecer ser o fim?
Exactamente.
Como o cavalo do soneto de Ângelo de Lima?
Tal e qual.
E depois mostrar-nos o que há-de vir
muito melhor do que está?
E dar-nos a cheirar uma cor
que nos faz seguir viagem
sem paragem
nem resignação?
E sentirmo-nos empurrados pelos rins
na aula de descer abismos
e fazer dos abismos descidas de recreio
e covas de encher novidade?
E de uns fazer gigantes
e de outros alienados?
E fazer frente ao impossível
atrevidamente
e ganhar-Ihe, e ganhar-Ihe
a ponto do impossível ficar possível?
E quando tudo parece perfeito
poder-se ir ainda mais além?
E isto de desencantar vidas
aos que julgam que a vida é só uma?
E isto de haver sempre ainda mais uma maneira pra tudo?

Tu Só, loucura, és capaz de transformar
o mundo tantas vezes quantas sejam as necessárias para olhos individuais
Só tu és capaz de fazer que tenham razão
tantas razões que hão-de viver juntas.
Tudo, excepto tu, é rotina peganhenta.
Só tu tens asas para dar
a quem tas vier buscar

Poemas, Assírio & Alvim